PRECE DE CORONA

FOTO: CLAUDIA ABANTO - O menino ajoelhado se chama Alen, tem seis anos e mora no Peru com a família. Ele foi para o meio da rua rezar para Deus pedindo o fim da pandemia de Coronavírus. 

Cada um reza como pode e como aprendeu. 
Influenciada pela atitude de uma criança de seis anos, aqui vai a minha prece: 


Senhor CRIADOR do universo, 
Deus, 
se reconhece a minha voz na multidão, esteja Senhor no céu ou onde estiver,
venha para terra imediatamente, estamos mal.
Sem exageros meu Pai, nessa pandemia a gente se ferrou, 
a humanidade virou um saco de lixo que precisa ser descartado logo 
e não contaminar o meio ambiente.
Se vamos daqui para pior, então não nos deixe atolados nas covas comunitárias,
largados nos corredores dos hospitais
nem longe dos braços e dos olhos de quem amamos. 
Não pegue pesado, Pai.
Perdoe-me a franqueza, mas enquanto escrevo 
um tanto de gente morre dessa doença 
e nós só assistimos. Remissão pela minha incapacidade.
Eu te imploro Deus, não feche os meus olhos, 
quero ainda um banho de mar demorado, um abraço de quem tenho saudade, 
de muito vinho, de poder enfrentar a fila da sorveteria.
Me mantenha em pé o suficiente para que ao menos 
possa encontrar a saída e apontar a saída para os que nada enxergam.
Se somos pecadores, se pagamos feio pela falta de amor ao próximo 
e pela falta de solidariedade, perdoe a nossa pobreza de tudo. 
Como castigo, então deixe o vírus matar o corpo, 
mas não deixe ele matar a alma de quem quer uma chance. 
Mantenha minha paciência com os outros. Dá-me sabedoria 
para lidar com a angústia, o tédio, a depressão, a solidão 
e com as síndromes de pânico dos outros, somos seres incoerentes e humanos.
Perdão Pai, pela exposição desnecessária, 
por colocar nossa sorte vulnerável, 
por ocupar o tempo com tanta inutilidade. 
Se teremos que aprender na marra, 
permita a benevolência aos médicos, enfermeiros e aos profissionais da saúde.
Permita o equilíbrio sendo justo ao tirar de nós alguma coisa, Senhor. 
Se perdemos o sucesso, nos compense com humildade, 
se me tirar a humildade, não me leve a dignidade.
Me livrai da solidão, não sou ermitã, nem quero ser, 
minhas relações com família e amigos serão eternamente sagradas, 
me dê a chance de poder estar com eles novamente, 
são essas pessoas que me ajudam a bem viver, a conviver 
e a me imunizar com amor, me sinto saudável ao ser abraçada.
Me proteja da maçaneta infectada, da fruta contaminada, 
do balcão sujo da padaria, do caixa do supermercado, 
mas também me faça imune ao pessimismo e ao medo.
Pai, muitas pessoas estão em sofrimento, 
sentem tanto medo que precisam negar o que está acontecendo. 
O tolo, o desesperado e o confuso ainda são filhos Seus, não esqueça deles.
Por mim, te peço vida. Pelo outros, te peço que vivam.
É isso.
Amém.


Obs.: Fiz esta prece na frente do meu computador, dentro da minha casa e com muita esperança de que o carteiro entregue minha correspondência.